terça-feira, 26 de dezembro de 2017

"A morte de um livro, por exemplo. Ao chegar ao fim de um livro, que ao longo das suas páginas me deu tanto prazer, tanta reflexão, tanta vida, invade-me um sentimento que não sei precisar. A morte é sempre uma falta.
(...)
Mas o que é que morre, o que é que me falta quando chego ao fim de um livro? O livro jaz diante de mim como sempre esteve antes de iniciar a sua leitura, contudo já não é o mesmo livro anónimo, já não é um livro, mas aquele livro determinado, e determinado pelo meu tempo de leitura. O livro já não é a lombada, a encadernação, o volume de folhas, a gramagem do papel, os caracteres e a sua composição página a página. O livro deixou de ser um mero objecto. O livro é uma amálgama de coisa e eu-mesmo. Este eu-mesmo é duas mortes: a minha e a do autor. O fim do tempo que demorei a ler o livro, o fim do tempo que ele demorou a escrevê-lo."
 
Paulo José Miranda  em "Um prego no coração"

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