quinta-feira, 9 de novembro de 2017

Espanta-Espíritos

"Amanhã tudo será pior
ainda, eu sei: o hábito, a inércia,
o sem remédio da vida - tão pouco
haverá a salvar.
 
Por toda a cidade os desconhecidos
subirão outro degrau para o escuro
da noite, e a memória será talvez
um remorso:
 
aquela manhã de sol
na varanda, o espanta-espíritos
com peixes de alumínio num rosário
de contas profanas.
 
Ainda o tens? Ainda canta,
de madrugada, se o vento sopra
do mar?
 
Não importa. Foi sempre de menos
o muito que pedimos
 
e a parte que tivemos."

Rui Pires Cabral em "Capitais da Solidão"

Sem comentários:

Enviar um comentário