sábado, 4 de novembro de 2017

"a areia fria da manhã que cheira
a cardos a maresia
 
as pegadas disformes
impressas pela multidão rumorosa da véspera
ao fundo o som do mar
 
os nossos pés miúdos mal
sarados da ferroada de um peixe-aranha
enfiados
nas sandálias de borracha
 
as dunas rodeando a baía
as primeiras toalhas empoladas pelo vento
as riscas recolhidas dos toldos
 
a gaivota branca o escaravelho preto
o peixe na lota prateado
 
em espasmos graves no topo
do balde
a abrir e a fechar a boca num turvo sermão
que ninguém escuta."
 
Miguel Manso  em "Persianas"

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